por @grazigt
O CONTEXTO (Negação)
Quarta-feira, 12:30, intervalo para o almoço no expediente. Objetivo: ir até uma loja de cosméticos para comprar uma BASE. Vou me convencendo que é só isso mesmo que vou fazer. Congestionamento, música alta no som do carro, mais tempo para meu trabalho de auto-convencimento. Base, Graziella, só uma base. Cinco reais no máximo. Estaciono o carro. Mas e se tiverem chegado as coleções de Outono/Inverno na loja? Ah sim, já falei sobre elas no ultimo post do blog, é dever de ofício fazer alguns swatches se as coleções tiverem chegado. Mas já jurei para mim mesma que não compro mais coleções completas. Não compro mais coleções completas. Não compro mais coleções completas.
A LOJA (Raiva)
12:47, entro na loja. Não vou nem perguntar, aposto que não chegaram as coleções novas. Quem eu quero enganar? É claro que eu vou perguntar. “Quer uma cestinha?”. Meu Deus, como esses esmaltes vieram parar na minha mão? “Não, obrigada, já estou indo embora… Por acaso você não sabe dizer se chegou a coleção nova da Passe Nati, né?”. Ainda dá tempo, Graziella, saia daí enquanto ela confere. Você pode. Você consegue. Você é forte. “Não fizemos pedido dessa coleção”. Beleza, agora estou eu escrevendo uma carta para a gerente de compras da loja, justificando que a coleção da Sabrina Sato e completamente do resto dos esmaltes da marca e que as cores são as mais parecidas com os lançamentos estrangeiros.
FUJA ENQUANTO PODE (Barganha)
13:10: danou-se. Preciso sair daqui. Estou indo em direção ao caixa. Quase lá, quase lá! “Você sabe como eu uso essa placa?” pergunta a aparentemente recém-iniciada no vício na arte dos carimbos. A vendedora é dona de um olhar interrogativo: ela não sabe, precisa saber, tem que responder, lê a embalagem, vai tentando descobrir diante da freguesa com os olhos vidrados na resposta. Paga, Graziella, paga! Sai daí! “Só isso mesmo?” me pergunta o caixa, “só um momentinho”, respondo. Volto para ajudar a dupla que bate cabeça com as plaquinhas Konad na mão. Eu não posso resistir: é maior do que eu. É melhor assumir. Ajudo elas, depois volto para o caixa. NÃO VOU PEGAR MAIS NADA. Nem estou mais com a cestinha. Não tem perigo.
A DESGRAÇA (Depressão)
13:22. Preciso voltar para o trabalho. No final das contas, foi bom conversar com a menina iniciante nos carimbos porque a convenci a também escrever uma carta para a gerente de compras e engrossar meu coro pela nova coleção da Sabrina. São só quatro ou cinco passos até o caixa. Estou resoluta, sei que posso, sou forte. Foi quando aconteceu. Estava de longe, mas eu reconheceria aquele vidrinho em qualquer lugar: “O que… é aquilo?” pergunto balbuciando já sabendo a resposta: “Agora estamos recebendo OPI”. Isso não é justo! Isso lá é jeito de dar uma notícia dessas?. Mas calma, não pode ser ele, Graziela. A paleta de cores é enorme e os marrons/roxos/cinzas bombaram no último inverno, pode ser qualquer cor.
A FRAQUEZA (Aceitação)
Olho as outras cores primeiro, com o canto do olho virado para ele. Não tenho escapatória, as esperanças são poucas, já tenho 98% de certeza que estou diante de um You Don’t Know Jaques, reconheceria no escuro! Pego o vidrinho. (Não vira, Graziella, não vira!)
Quem eu quero enganar? Eu sei que vou acabar dando os R$33,00 no vidrinho. Ano passado tentei por tudo comprar esse esmalte mas estava esgotado em todas as lojas virtuais. Resignada, levo o vidrinho até o balcão. O caixa me dá uma última chance: “acrescento mais esse?”, apenas aceno com a cabeça, ainda não consigo verbalizar. Nessa batalha eu já entrei derrotada. Para vocês, o meu espólio de guerra:
Final do dia: “Mãe, você me empresta sua base para eu passar meu esmalte novo?”: “De novo, Graziella?”.